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A Bíblia – o que é? (Post republicado a pedidos)

Algumas simples considerações:

1. O nome vem do grego: “Biblion” significa livro (singular) e “Biblia” conjunto de livros (plural)

2. Como um conjunto de livros, foi escrito por um conjunto de pessoas em sequência cronológica de várias centenas de anos. Portanto, suas afirmações e relatos precisam ser vistos à luz de cada realidade que os geraram.

3. Esses livros foram escritos em idiomas diversos, arcaicos, e todos foram posteriormente traduzidos ao latim e às línguas modernas. Quem já fez tradução sabe que o conteúdo traduzido sempre traz algo do tradutor em si, por mais isento que se queira ser. Isso porque entendemos a vida através do nosso olhar. Tradução feita sem interpretação, de forma mecânica, pode-se obter pelo Google Translator. Façam uma experiência e vejam no que vai dar. Em resumo: os textos bíblicos têm influência involuntária do olhar de quem os traduziu e prováveis influências ideológicas intencionais “plantadas” pela Santa Igreja.

4. A Bíblia é uma compilação de natureza moral. Traz histórias, relatos e mandamentos sobre o padrão de vida e princípios preconizados para o cristianismo. Outras religiões utilizam textos diversos, como os “Vedas” do hinduísmo, o “Mahabharata” do bramanismo, o “Alcorão” do islamismo e por aí vai… Todos falam de Deus. E devem ser entendidos como uma opção individual de crença e relação com um ente supremo. A maioria cristã não pode subjugar demais minorias segundo as suas crenças. Isto é vedado num Estado Democrático de Direito.

5. A Bíblia não é a Constituição de nosso país. Vários de seus princípios foram incorporados em nossa Carta Magna e convertidos em lei (não matarás, não dirás falso testemunho, etc…), mas não a sua totalidade e muito menos a sua interpretação literal. Não interessa mais se a Biblía diz que família só pode começar pelo casamento. Nossa Constituição já consagrou outros tipos de configuração familiar, e a Igreja pode espernear à vontade. Nosso país é plural. Eu creio em Deus, mas não votei nele para presidente nem deputado constituinte. E nosso direito é constitucional, não bíblico. Imaginem uma sentença judicial: “Condeno o réu a 15 anos de reclusão com base nos textos de Mateus 2:1-8, Isaías 14: 7-10 e I Coríntios 8: 3-6”. Parece ridículo, mas isso é exatamente conferir lastro legal a um texto de natureza religiosa e pessoal.

6. Quando questionado pelos fariseus judeus sobre a legalidade de se pagar tributos a Roma, Cristo respondeu: “Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Essa emblemática afirmação mostra que religião e política não se misturam. Direitos e deveres civis devem ser tratados à parte de obrigações religiosas, cada qual na sua esfera.

7. A Bíblia não é profissão de fé de vários brasileiros. Opção deles, protegida pela lei. Isso não os torna menos brasileiros ou menos capazes perante a lei, em todos os seus aspectos.

8. A Bíblia serve de base teológica para inúmeras igrejas ditas cristãs, mas as práticas dessas igrejas varia enormemente entre si. Exemplo: uma delas batiza crianças jogando água na cabeça; outra afunda toda o corpo da pessoa na água e só o faz após uma certa idade, fora da primeira infância. Não é só diferença de forma, é diferença de conceito e interpretação. E isso usando o mesmo texto base. Citei este exemplo, mas há vários outros, alguns bizarros (não poder cortar cabelo, assistir TV, comer carne de porco, etc…).

9. A Bíblia pode e deve regular os princípios da Igreja. A liberdade religiosa é assegurada pela nossa Constituição, e que façam bom uso dela. Mas limite-se cada Igreja a ditar normas para quem voluntariamente desejar ser seu seguidor. Não tenho a menor vontade de me casar numa Igreja e nem espero que a Igreja tenha que acolher qualquer casamento fora de seus princípios. Mas é indigno fazer lobby no Regresso Nacional e tentar impor esse princípio a quem dele não compartilha. Que as leis da Igreja governem apenas a Igreja e não o Estado.

Fico por aqui, por enquanto. Sou brasileiro e desejo estar sujeito a normas legais e constitucionais que respeitem a diversidade da sociedade, as minorias e os direitos fundamentais do ser humano. Passou disso, que cada galo vá cantar no seu puleiro.

 

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